terça-feira, 1 de maio de 2012

Uma pedra e um cálice

Eram 19:35 de uma sexta-feira chuvosa no ano de 1835. Miriam era jovem moça de 23 anos, cabelos alaranjados, olhos azul céu e contemplada de uma linda voz que acompanhava todas as noites o tocar do piano na sala de jantar.
A moça apesar de mostrar-se sempre alegre entre os seus, escondia profunda dor em seu interior, que mal saberia explicar.  Durante a tarde, saira a cavalo pelo campo onde a família possuía propriedades. Todos a conheciam e a lembravam como "o sorriso de ouro".
Miriam sentia-se só, insatisfeita com as questões da vida, não conseguia conformar-se com as atitudes alheias a qual presenciava diariamente. Como poderiam existir pessoas tão ruins? E por mais que buscasse respostas, nunca as encontrava.
Cansada e com a chuva forte que caia, parou em um pequeno celeiro bem afastada da grande casa onde morava, não poderia adoecer, já que no sábado a noite seu pai chegaria de Londres e não se contentaria se não fosse recebido pela voz ilustre da jovem filha. A moça sempre fora a mais corajosa dentre as outras cinco irmãs. Seu olhar demonstrava segurança, suas palavras eram firmes, mas seu sorriso mostrava doçura em meio a tanta fortaleza.
Entrando no celeiro, nada via. Ascendeu um lampião e seguiu procurando aconchego dentre as palhas que encontrava. Ouviu uma tosse, parecia haver alguém bem doente no local e logo prontificou-se de saber quem ali estava. Encontrou uma velha com aparência sofrida, que muito chorava.
Miriam notando que a senhora sentia frio, tirou seu casaco e sua echarpe e cobriu a pobre. Depois de alguns minutos tentando conversar e entender o que lhe acontecera, a velha misteriosa olhou fixamente em seus olhos e disse:
-Das muitas perguntas que tem, eis aqui as respostas - apontando para uma pedra ao chão e uma garrafa que cheirava a ervas.
A moça astúcia como sempre fora, pediu para tocar na pedra que tinha formato diferente do que jé pode observar. A velha então continuou:
- Essa pedra é o coração de uma pessoa de bem e dessa água pode-se notar os sentimentos, que quando jogados sobre a pedra, efeito nenhum causa a não ser que contemplado de sentimentos sinceros. Tente você! - entregando nas mãos a garrafa e a pedra.
A jovem abriu a garrafa e despejou pouco do liquido sobre a pedra e nada acontecera. Perguntou a velha senhora o porquê e a mesma apenas pediu para que fizesse o mesmo teste quando em momento de intimidade profunda com seu interior.
Passavam das 18:00 quando notou que precisava voltar, ou sua mãe se preocuparia com sua demora. Agradeceu e montou seu cavalo em direção a casa onde vivera desde criança, levando consigo a garrafa e a pedra.
Surpreendida, encontrou cerca de 15 cavalos no caminho e resolveu parar. Eles eram lindos e unidos. Como o ser humano não poderia assim ser também? Sentou na grama ainda molhada da chuva e apanhou a pedra. Observava com atenção tentando descobrir qualquer detalhe, até que passou notar que a pedra era o formato do rosto de Hébrius, um rapaz que apaixonara-se desde a primeira vez que se viram. Impressionada com a imagem do moço, colocou a pedra entre os seios e em várias vezes repetiu seu nome. Até sentir vontade de abrir a garrafa. Tomando o líquido verde, sentia vontade de despir-se e aos poucos o fez. Perdeu a consciência. Acordara num celeiro toda machucada, com aparência de velha, e sentia frio. Estava sozinha e com uma garrafa e uma pedra em suas mãos, esperando a próxima jovem aparecer.
Miriam nunca mais fora vista.




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